Submeter nossa vontade à de Deus: Uma reflexão sobre a Fé

A Pérola de Grande Valor

Na parábola da pérola de grande valor, registrada em Mateus 13:45–46, Jesus ensina que o reino dos céus é o tesouro mais precioso que podemos buscar. O negociante da história vendeu tudo o que possuía para adquirir a pérola, demonstrando que o valor do reino de Deus supera qualquer sacrifício. Entretanto, o Evangelho de Jesus Cristo não exige que renunciemos literalmente a todos os nossos bens, mas nos convida a algo ainda mais desafiador: submeter nossa vontade à Dele.

Cristo exemplificou esse princípio perfeitamente ao declarar: “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (João 6:38). Seguir Seu exemplo nos desafia a confiar na sabedoria e no amor do Pai Celestial, mesmo quando Sua vontade não é totalmente clara para nós.

A Luta entre a Nossa Vontade e a de Deus

O Élder Ulisses Soares, em sua mensagem “Alinhar Nossos Desejos aos Dele” (Conferência Geral, outubro de 2024), explicou que a luta entre nossos desejos e a vontade de Deus é uma batalha constante na mortalidade. Ele descreveu essa dualidade como uma tensão entre o que achamos ser o melhor para nós e o que o Pai Celestial, em Sua sabedoria, sabe que é o melhor para nossa jornada eterna.

Essa luta é mencionada em Éter 4:15 como o “véu de incredulidade”, que nos impede de confiar plenamente no Senhor. Tal véu se manifesta em diversas formas: dúvidas, receios, orgulho ou até a busca por caminhos aparentemente mais fáceis.

Exemplos de Submissão e Resistência

Resistência à Vontade de Deus

1. Caim: Caim é um exemplo clássico de alguém que escolheu seguir seus próprios desejos, rejeitando as instruções divinas sobre o sacrifício aceitável (Gênesis 4:3–5). Sua escolha trouxe sofrimento e afastamento espiritual.
2. Os dias de Noé: Durante o período pré-diluviano, a humanidade sucumbiu aos próprios desejos, ignorando os profetas e a palavra de Deus. Esse padrão é repetido em nossos dias, como predito por Paulo em 2 Timóteo 3:1–5.

Submissão à Vontade de Deus

1. O Salvador no Getsêmani: O maior exemplo de submissão está na oração de Cristo no Getsêmani: “Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42). Ele aceitou o peso do sofrimento por amor ao Pai e à humanidade.
2. Abraão: Abraão demonstrou fé inabalável ao aceitar o sacrifício de Isaque, confiando que Deus cumpriria Suas promessas (Gênesis 22:1–14).
3. Néfi, filho de Helamã: Néfi, em Helamã 10:3–5, foi elogiado pelo Senhor por buscar incansavelmente conhecer e cumprir Sua vontade, demonstrando confiança e dedicação.

A Luta no Contexto Moderno

O apóstolo Paulo advertiu sobre os últimos dias em 2 Timóteo 3:1–5, descrevendo uma sociedade marcada por egoísmo, amor ao prazer e desprezo pelos princípios divinos:

“Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amantes dos deleites do que amantes de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela; destes afasta-te” (2 Timóteo 3:1–5).

Essa profecia é um retrato preciso dos dias atuais. Frases como “siga sua própria verdade” ou “faça o que te faz feliz” refletem a exaltação do individualismo, frequentemente em detrimento de valores divinos. Na busca pelo que é conveniente ou agradável, muitos rejeitam a vontade de Deus em favor de seus próprios desejos.

Exemplos Modernos de Homens Amantes de Si Mesmos

• Justificativas Morais: Expressões como “vivo minha própria verdade” são usadas para legitimar escolhas que frequentemente contrariam os mandamentos. Isso inclui a busca por prazer imediato e a racionalização de comportamentos contrários aos padrões divinos.
• A Prioridade do Sucesso Pessoal: Muitos sacrificam princípios eternos para buscar fama, riqueza ou aceitação social. Redes sociais amplificam esse comportamento, promovendo a busca por “likes” e validação externa em vez de valores duradouros.
• Negligência Espiritual: A obsessão por prazeres mundanos, como o entretenimento excessivo ou o consumo materialista, frequentemente deixa em segundo plano práticas essenciais como oração, leitura das escrituras e adoração em família.

O Élder Quentin L. Cook alertou que “ser verdadeiramente semelhantes a Cristo é uma meta muito mais importante do que ser autênticos” segundo os padrões do mundo. Alcançar essa semelhança exige abandonar o egoísmo e buscar submissão à vontade divina.

Impactos do Individualismo Excessivo

• Justificativas Morais: A ideia de que nossos desejos pessoais têm precedência sobre as verdades divinas pode levar à racionalização de escolhas contrárias aos mandamentos.
• Busca de Sucesso Secular: Muitos sacrificam princípios eternos para alcançar fama, riqueza ou influência. Essa busca pode ser sedutora, mas frequentemente deixa um vazio espiritual.

Como Submeter Nossa Vontade à de Deus

Submeter nossa vontade requer esforço consciente, fé e ação. Aqui estão três passos essenciais:

1. Reconhecer nossas barreiras: É necessário identificar as dúvidas, medos ou desejos que nos afastam de Deus. Isso inclui refletir sobre escolhas que priorizam conforto pessoal ou popularidade acima da retidão.
2. Fortalecer nossa fé: A fé é construída por meio de oração sincera, estudo das escrituras e obediência às pequenas inspirações. Enos, por exemplo, começou orando por si mesmo, mas sua fé cresceu até incluir orações por outras pessoas, inclusive por inimigos (Enos 1:4–18).
3. Aceitar o plano de Deus: A aceitação não é passiva; ela envolve agir de acordo com o que sabemos ser correto, confiando que o Senhor nos guiará no restante.

Os Benefícios da Submissão

Submeter nossa vontade traz inúmeros benefícios:

• Paz e Propósito: Quando confiamos em Deus, mesmo diante de desafios, encontramos a paz que vem da certeza de que Ele está no controle (João 14:27).
• Fortalecimento Espiritual: Tornamo-nos mais resistentes às tentações e mais capazes de enfrentar dificuldades.
• Alegria Duradoura: A verdadeira alegria vem de viver em harmonia com os mandamentos de Deus e sentir Sua aprovação.

Confiar na Sabedoria de Deus

A submissão à vontade de Deus é um convite contínuo para cada um de Seus filhos. As escrituras e os exemplos de Jesus Cristo e Seus servos mostram que alinhar nossos desejos aos de Deus abre caminho para bênçãos eternas.

Uma reflexão fundamental é: “Que parte da minha vida ainda precisa ser alinhada à vontade de Deus?” Essa pergunta convida à introspecção sincera e ao desejo de crescimento espiritual.

Ao confiar na sabedoria divina, cada pessoa pode experimentar a paz, o propósito e a verdadeira alegria que vêm ao colocar Deus em primeiro lugar. Esse é o caminho que conduz à verdadeira pérola de grande valor — o reino dos céus.

FONTES:

• Escrituras: Mateus 13:45–46, João 6:38, Éter 4:15, Gênesis 4:3–5, Lucas 22:42, Gênesis 22:1–14, Helamã 10:3–5, 2 Timóteo 3:1–5, Enos 1:4–18, João 14:27
• Élder Ulisses Soares, Alinhar Nossos Desejos aos Dele, Conferência Geral, outubro de 2024.
• Élder Quentin L. Cook, “Não Temais (…) em Mim Vossa Alegria É Completa”, Devocional Mundial para Jovens Adultos, 11 de setembro de 2016.